terça-feira, 19 de abril de 2016

A política da desigualdade



Eu odeio injustiça. Embora não seja o tipo de pessoa que vá pra rua manifestar contra algo aleatório, enquanto o resto do mundo está trabalhando para tentar ter uma vida decente. Isso não muda o fato de que passar por Beagá me fez enxergar coisas que eu não gostei de ver. Coisas que impactaram meu coração e reviraram meu estômago. 

Ao acabar de atravessar uma rua, no chão, ao lado de uma banca fechada, quase pisei em um mendigo coberto por um cobertor. Só não o fiz porque me assustei com o pé mexendo.
Me concentrar para caminhar pelo centro e ter que me desviar de fezes dos moradores de rua. 
O susto, com uma caixa no meio da calçada, com fezes descobertas.
Sentir o cheiro forte de urina antes e depois do trabalho, indo e vindo.
Ter que desviar os olhos do jovem desmaiado no próprio vômito na porta do Habib's.
Observar o senhor sem pernas, sentado todos os dias, no mesmo horário, no chão, perto de um grande hotel, dando bom dia pra quem vê que ele está ali.
Ver uma moradora de rua fazendo comida, em panela de pressão, no meio de uma pracinha.

Esse texto não é pra dar lição de moral, nem falar sobre a desigualdade do país. É um alerta de desespero, para que eu nunca esqueça de onde vim. E talvez, o mais importante, para que eu não me permita esfriar. Que eu não seja mais uma pessoa fria e calculista nesse mundo.

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